19 de out. de 2009

Uma obra reinterpretada

Desenvolvido para a disciplina Arte e Moda, ministrada por Lucia Isaia, na Pós-Graduação no SENAC-RS
FEMME AU CHAPEAU (Woman with Hat)

Retrato da esposa de Matisse, Amélie Parayre, chapeleira e seu ofício havia mantido várias vezes o sustento da família. Trabalhou com a tia, dona da Grande Maison des Modes no boulevard Saint-Denis. Quatro anos depois e há um ano casada com Matisse, abriu a própria chapelaria, graças aos contatos da tia.
Porém, em 1902, faliu, devido ao envolvimento de seu pai num escândalo político e financeiro. Em 1903, voltou a trabalhar com a tia.
O retrato foi pintado rapidamente porque Matisse estava muito ocupado com a pintura de uma paisagem maior e mais elaborada, a qual ele havia planejado para ser a pintura principal da sua exposição no Salão.
Aos meus olhos, Amélie está sentada em uma cadeira de encosto vermelho, com a mão apoiada numa bengala. Ela segura um leque aberto e um ramalhete de flores dadas por Matisse a fim de alegrá-la, em sua mão direita, junto a um lenço. A mão esquerda parece repousar no seu colo. Usa luvas com abotoamento e um vestido com ombros levemente bufantes e cintura marcada.
O chapéu provavelmente tenha sido confeccionado pela própria Amélie, e era o mais belo entre os que possuía. Ela exercia seu ofício de chapeleira, possibilitando que seu marido continuasse pintando em tempo integral. Portanto, o chapéu pode não ter sido pintado inocentemente: ele representa o sustento de Matisse. O chapéu é abstrato: o pintor não se preocupou em mostrar os detalhes. Seu caráter espetacular não tira nossa atenção da expressividade do rosto de Amélie.



MINHAS RELEITURAS SOBRE A OBRA:

Podemos compará-lo ao pintado por Cézanne dois ou três anos antes, Mulher de azul, já que ele servia de referência para Matisse.

Carmem Miranda apresenta semelhanças nos desenvoltos ornamentos da cabeça e em suas cores alegres e gritantes.



Frida Kahlo apresenta feição semelhante à mulher de Matisse, com sobrancelhas bem definidas, além da boca vermelha marcada e ornamentos na cabeça. Suas cores intensas assemelham-se.




Philip Tracey demonstra talento em seus trabalhos, e desenvolve lindos chapéus, assim como Amélie fazia. Na foto, chapéu de Philip com cores da obra de Matisse.





A produção pode ser lida como uma releitura moderna do quadro de Matisse, pela semelhança de cores e traços.




A parte vermelha da pintura atrás de Amélie pode ser interpretada como esta poltrona desenvolvida pelos Irmãos Campana.





Se Amélie vivesse nos dias atuais, estaria vestindo este look de Herchcovitch (NY S/S 2010). Assim como na obra, com ombros estruturados, cintura marcada e cores vivas e formas superfemininas.




A estampa da chita carrega elementos como cor e traços que lembram a obra.




Se Matisse fosse retratar sua mulher hoje, talvez a melhor forma seria em graffiti.



O culto ao corpo e a busca de soluções em cápsulas fariam parte da vida de Amélie.




Bastante vaidosa, criativa e ousada, trocaria seu leque por uma bolsa Louis Vuitton, usaria All Star e estaria escutando o último sucesso de LadyGaga em seu iPod.

FEMME AU CHAPEAU EM 2010

Observando meu entorno vivencial, decidi experimentar Amélie Parayre na exarcebada urbanização de uma metrópole no mundo moderno:

"Ah, Amélie... se vivesses hoje em dia
Sentarias em uma poltrona Campana
Mesmo estando com pouca grana.
Sem telas, pincéis ou tintas
Teu retrato sairia de uma câmera digital
Mas só depois de fazer escova progressiva, passar blush, coisa e tal.
Ah, e photoshop pra melhorar o visual.
Substituir o leque por uma revista seria uma boa hipótese
E não segurarias bengala, pois teria prótese.
Tua roupa de brechó, bolsa da Vuitton e All Star
Revelariam tua personalidade bipolar.
A babá pegaria as crianças na escola, inglês e natação
E tu não terias tempo para dar-lhes atenção.
Teus problemas de saúde seriam logo resolvidos:
Nada melhor do que muitos comprimidos!
Drenagem linfática, sibutramina e musculação
Ajudariam a manter o corpão.
Tu passarias por crises de carência
E dirias que o mundo é duro
Porque Matisse não estaria com você: estaria pichando muro!
Trabalharias muito para conseguir algum dinheiro
E se teu negócio não desse certo
Tua tia até te empregaria
Mas precisarias de Prozac pra ajudar na terapia.
Detesto arruinar sonhos alheios
Mas não acho que Matisse seja um bom partido
Poderias ter escolhido bem melhor um marido!
Ele não é ambicioso e fica em casa o dia todo!
Se eu fosse tu, leria seus históricos do MSN
Só quando não tivesse em TPM.
Ele até pode ser um cara adorável,
Talvez para um rolo, mas não para uma união estável!
O playboyzinho francês largou a faculdade de direito
Porque acha que na pintura leva jeito
E uniu-se a alguns desmiolados
Sabe-se lá se são viados!
As feras, eles dizem ser
Mas eu não quero nem saber!
Sustentar um marmanjão
Só porque ele te usa como
elemento de criação?
Vá lá que ele faça graffiti
Mas tem coisas que não se admite!
A única solução para curar tua depressão
É correr até a advogada e entrar com o pedido de separação".
'Poesia trash', diga-se de passagem...

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